Olá Bunnies....
Pensei durante muito tempo sobre escrever este post. Pensei em filmar, escrever num diário, ou apenas guardar as coisas para mim...ao fim de muitos meses (talvez anos se considerarmos o caso completo) decidi escrever aqui para vocês que me acompanham.
Durante muito tempo tive também medo de escrever sobre o assunto, medo de represálias, medo de ser mal interpretada, mas o que me levou a escrever finalmente o que sinto é saber que desse lado existem pessoas que passam por situações idênticas, às vezes piores, e que não têm quem lhes dê voz.
Quem já segue o meu blog há algum tempo sabe que durante algum tempo fiz uma série de vídeos intitulada "Diários de uma Desempregada" que podem ver
aqui.
Essa série foi provavelmente a série com maior feedback do canal e muitas pessoas se perguntaram porque parou de súbito.
Parou por um simples motivo - eu arranjei um emprego.
Um dos famosos estágios profissionais, tão em voga hoje em dia.
Na minha altura as condições eram simples, um contrato de 12 meses, com 22 dias de dispensas (dias não pagos que seriam depois compensados à empresa no final do estágio), e um cargo que envolvia gerir redes sociais, criar campanhas de marketing e apresentar os produtos da empresa a uma carteira de clientes já existente.
No início foi um sonho de trabalho, adorava tudo o que fazia, o local onde trabalhava e finalmente podia pôr em prática o que tinha aprendido.
Infelizmente o sonho não durou muito...
Não demorou a aperceber-me do descontentamento dos meus poucos colegas com a pessoa à frente da empresa, e à medida que me fui envolvendo mais no processo de divulgação da mesma várias lacunas foram sendo encontradas, clientes que não existiam, produtos que nunca tinha sido terminados, e a constante pergunta de onde vinha a facturação dessa empresa.
Com o tempo também o carácter abusivo do meu chefe se foi mostrando, obrigando-nos a ficar mais meia hora a trabalhar (sem receber) por fazer-mos intervalos de 10 minutos (muitas vezes necessários uma vez que a empresa não dispunha sequer de água fresca para bebermos no verão).
Não havia sabonete na casa de banho, toalhas, nem mesmo papel higiénico - itens que a entidade patronal exigia que fossem os funcionários a comprar.
As minha tarefas direccionadas ao marketing foram também bruscamente reduzidas a nada e o meu objectivo passou a ser angariar clientes para usufruírem de produtos que não existiam.
Foram também postos diversos obstáculos à utilização dos meus dias de dispensa, facto que foi compactuado com a entidade que tratava do meu estágio no centro de emprego.
Tudo isto levou a meses de extremo desgaste emocional, começando por ter medo e depois fartando-me enfrentando a entidade patronal com as provas da sua própria empresa.
Faltavam 4 meses para o meu estágio acabar quando fui abruptamente despedida por um intitulado "gestor de conta" da empresa sendo que o meu chefe não proferiu uma única palavra.
Foi quase um ano de sofrimento em conjunto com os meus colegas que eu via serem humilhados um a um.
No dia em que fui despedida apresentaram-me um documento que afirmaram ter que assinar nesse dia. Esse foi o meu erro. Não percebi (com o stress da "emboscada") que o documento afirmava que eu não me tinha adaptado às funções da empresa.
Meses depois (sem qualquer contacto do centro de emprego) percebi que me tinham excluído do programa de estágios porque a culpa teria sido minha, tudo pelo documento assinado, culpa que assumo.
Todo este caso tem muitos mais contornos, muitos mais detalhes que dariam para escrever um livro, mas isso iria desviar-me do propósito deste post.
Após ter sido despedida, sem direito ao fundo de desemprego (que conseguiria caso trabalhasse o ano inteiro), voltei ao desemprego, mas voltei mudada.
A revolta foi um dos sentimentos mais predominantes em mim.
Simplesmente não conseguia aceitar como uma pessoa poderia assim arruinar a vida profissional de uma jovem por puro prazer. Não aprendi nada no meu estágio, apenas me levou a problemas de depressão e ansiedade e no fim fui dada como culpada.
Hoje, como alguns sabem, planeio sair do país.
E já não consigo considerar sequer um futuro aqui.
Todos os anúncios que vejo, todos "chefes" que falam na tv, todos os relatos de abusos nos locais de trabalho me causam nauseas.
Seria óptimo dizer que é uma coisa que apenas pomos para trás das costas, que nunca mais nos volta a incomodar a partir do momento que saímos da empresa, mas não é.
Para mim ainda é difícil pensar em voltar a trabalhar num escritório, pensando em todas as horas tortuosas que passei lá.
Depois vem o tal sentimento de revolta. Revolta com o mundo e revolta comigo.
Porque fiquei? Porque não saí a meio poupando-me meses de abuso psicológico?
Bem a resposta é simples....porque vivemos num país onde estamos habituados a baixar a cabeça perante quem manda.
Quando apareceram os sinais dos primeiros abusos e em conversa com várias pessoas a resposta era quase sempre a mesma "ele é o chefe, ele é que manda".
Hoje posso dizer-vos que isso não pode estar mais longe da verdade. Ninguém manda ou tem poder ao ponto de arruinar a vossa saúde e auto-confiança e nenhum dinheiro no mundo vale isso também.
Gostava que não existissem mais situações assim, mas infelizmente existem, e muitas pessoas, na sua boa fé, continuam a baixar a cabeça como eu fiz, aguentando, sofrendo em silêncio. Não julgo nenhuma delas.
No entanto, resolvi escrever este post para falar do impacto que tanto os abusos laborais e o desemprego a longo prazo podem ter na vida de uma pessoa.
No meu caso, sinto que perdi a esperança em muitas pessoas, deixei de confiar em quem nos promete ajuda, deixei de sentir vontade de ir a entrevistas aqui, fiquei com um medo real de passar pela mesma situação.
Ao mesmo tempo, passo pelo estigma de ver a minha vida estagnada, sem ter nada palpável a que me agarrar.
Não posso fazer planos de vida pessoal, não posso marcar férias com os amigos, não posso pagar aos meus pais tudo o que eles sempre me deram. Esse é um dos meus maiores sofrimentos, saber que desiludo os meus pais, o medo constante de encontrar um emprego novo e algo de mau acontecer, saber que eles desejam o melhor para mim e no entanto o melhor para mim pode ter que ser deixar-los aqui e viajar para outro país.
Simplesmente, o sentimento mais comum, é sentir que estou parada a ver a vida de toda a gente a desenrolar-se enquanto a minha fica parada, não conseguir construir nada, parecer que estou sempre a montar castelos de areia, sentir-me inútil.
Eu tento por tudo nunca perder a esperança de algo melhor, mas nem sempre é fácil. Há dias que deixo de ver a beleza nas pessoas e nas coisas que antes me apaixonavam.
Muita gente, geralmente quem nunca passou por uma situação idêntica, acha que é algo fácil de se lidar, mas não é, para mim pelo menos não é. É a pressão diária constante de tentar mudar as coisas e ao mesmo tempo ser assombrada por pensamentos de que não vai resultar.
É exaustivo. Há dias que não consigo ouvir a palavra emprego. Há dias que me pergunto se algum dia terei algum. O que me acontecerá se nunca conseguir. O que os meus pais pensarão de mim. O que eu pensarei de mim...
No fundo este post é um desabafo, porque existem dias que são difíceis, nem tudo é brilho e glamour, e acho importante partilhar isto com vocês, porque me faz bem e porque pode fazer bem a outras pessoas.
Existem pessoas más no mundo, pessoas capazes de nos deitar abaixo, mas também existem pessoas maravilhosas, com um coração enorme, e são essas que me fazem continuar todos os dias. A todas elas um muito obrigada.
XoXo
Melody